Metabolismo e biodisponibilidade: por que nem todos os suplementos são absorvidos da mesma forma?

A eficácia de um suplemento não depende apenas da sua formulação, mas também da sua biodisponibilidade, ou seja, da capacidade do organismo de absorver e utilizar seus componentes. Diferentes fatores influenciam esse processo, incluindo a forma química do nutriente, a interação com outros compostos, a presença de cofatores e as condições fisiológicas do paciente.
Compreender o metabolismo e a biodisponibilidade dos suplementos é essencial para a prática clínica, garantindo recomendações mais eficazes e otimizadas para cada paciente.
O impacto da biodisponibilidade na eficácia dos suplementos
A biodisponibilidade refere-se à quantidade de um nutriente que é efetivamente absorvida pelo trato gastrointestinal e disponibilizada na circulação sistêmica para ser utilizada pelo organismo. Esse conceito é fundamental, pois a quantidade de um nutriente ingerida nem sempre reflete a quantidade que será de fato absorvida e utilizada pelo corpo.
Alguns nutrientes apresentam alta biodisponibilidade, sendo rapidamente assimilados, enquanto outros precisam passar por processos metabólicos para se tornarem ativos. Um exemplo clássico dessa diferença é o ferro: a forma heme, encontrada em carnes, é mais biodisponível do que o ferro não heme, presente em vegetais. Da mesma forma, minerais quelados e citratos costumam ter absorção superior a outras formas inorgânicas, garantindo maior aproveitamento pelo organismo.
Fatores que influenciam a absorção dos suplementos
A forma química de um suplemento influencia diretamente sua absorção e utilização pelo corpo. O magnésio, por exemplo, tem maior biodisponibilidade quando ingerido na forma de citrato ou bisglicinato, em comparação ao óxido de magnésio, que possui menor absorção intestinal. O mesmo ocorre com o ferro, em que a forma bisglicinato é melhor tolerada e mais eficaz do que o sulfato ferroso, reduzindo efeitos colaterais gastrointestinais.
Além da forma química, as interações entre nutrientes também podem impactar a absorção. Algumas combinações são sinérgicas e favorecem a melhor assimilação dos compostos, como é o caso da vitamina D e do cálcio, onde a presença da vitamina D aumenta a absorção do cálcio no intestino. Outro exemplo é a vitamina C, que melhora significativamente a absorção do ferro não heme. Em contrapartida, algumas combinações podem ser prejudiciais, como o cálcio competindo com o ferro por transportadores intestinais ou o excesso de zinco reduzindo a absorção do cobre.
Outro fator essencial para a absorção de determinados nutrientes é o pH gástrico. Minerais como ferro, cálcio e magnésio dependem de um meio ácido para serem solubilizados e absorvidos adequadamente. Pacientes que fazem uso crônico de inibidores da bomba de prótons, como omeprazol, ou que possuem hipocloridria podem apresentar deficiência na absorção desses minerais. Nessas situações, a prescrição de suplementos em formas mais biodisponíveis, como citratos e quelatos, pode ser uma estratégia eficaz para contornar esse problema.
A presença de cofatores também influencia diretamente a absorção e eficácia dos nutrientes. A vitamina K2, por exemplo, auxilia na fixação do cálcio nos ossos, evitando que ele se deposite em artérias. A vitamina B12, por sua vez, depende da presença do fator intrínseco para ser absorvida, o que pode ser um desafio em pacientes com gastrite atrófica ou submetidos à cirurgia bariátrica. Já a vitamina A, por ser lipossolúvel, tem sua absorção potencializada quando ingerida com fontes de gordura, como azeite de oliva ou óleo de peixe.
Como otimizar a absorção dos suplementos na prática clínica
A escolha da melhor forma química do nutriente é um dos primeiros passos para garantir a eficácia da suplementação. Sempre que possível, optar por formas altamente biodisponíveis, como bisglicinatos, citratos e quelatos, pode otimizar a absorção e reduzir efeitos adversos. Além disso, é importante considerar o melhor momento para ingestão. O ferro, por exemplo, tem melhor absorção quando tomado em jejum, enquanto vitaminas lipossolúveis, como D e K, devem ser consumidas junto com refeições que contenham gorduras para um aproveitamento ideal.
A individualização da suplementação também desempenha um papel fundamental na eficácia do tratamento. Em alguns casos, separar a ingestão de determinados nutrientes pode ser necessário para evitar interações negativas, como no caso do cálcio e do ferro. Em contrapartida, algumas combinações sinérgicas podem ser exploradas para maximizar os benefícios, como associar magnésio e vitamina D para suporte muscular e ósseo.
Pacientes com condições específicas, como idosos, atletas ou indivíduos com síndromes de má absorção, podem necessitar de ajustes personalizados na prescrição dos suplementos. Para esses casos, além de escolher formas de maior biodisponibilidade, a associação com cofatores e ajustes na dieta podem fazer a diferença na absorção e na resposta terapêutica.
O conhecimento sobre metabolismo e biodisponibilidade é essencial para a prática clínica, permitindo recomendações mais assertivas e eficazes. Nem todos os suplementos são absorvidos da mesma forma, e a escolha da melhor forma química, o ajuste das interações nutricionais e a consideração de fatores individuais podem impactar diretamente os resultados da suplementação.
Na Joie Suplementos, a seleção de nutrientes segue critérios rigorosos para garantir máxima absorção e eficácia, permitindo ao profissional de saúde prescrever com confiança e segurança.
Referências
- Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN). “Biodisponibilidade de nutrientes e fatores que afetam a absorção”. Disponível em: https://www.sban.org.br
- Universidade de São Paulo (USP). “Estudos sobre a interação entre minerais e sua influência na absorção”. Disponível em: https://www.teses.usp.br
- National Institutes of Health (NIH). “Nutrient Bioavailability and Absorption”. Disponível em: https://ods.od.nih.gov
- Harvard Medical School. “How Different Forms of Supplements Affect Absorption”. Disponível em: https://www.health.harvard.edu
- Ministério da Saúde do Brasil. “Guia alimentar para a população brasileira”. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf